DETERMINAÇÃO ESTATÍSTICA NO NÚMERO DE AMOSTRAS SIMPLES DE SOLO POR ÁREA PARA AVALIAÇÃO DE SUA FERTILIDADE*
Antônio Carlos Barreto
Roberto Ferreira de Novais
José Mário Braga**
1. INTRODUÇÃO
Uma das maiores razões para uma recomendação de adubação não ser eficiente, baseada na análise química do solo, prende-se, em alguns casos, a uma amostragem inadequada.
A precisão com que a amostra representa a popu1ação depende, basicamente, da variabilidade do solo, do número de amostras simples coletadas por área e da maneira como são retiradas.
JACKSON (2) recomenda que o número de amostras deverá estar entre 10 e 30 por área. Na determinação estatística do número de amostras, Catani et alii (1) concluíram que, em terrenos uniformes, devem-se retirar 3 amostras compostas, formadas de 20 simples cada uma, em áreas de 5 hectares, aproximadamente. Verificaram, também que variações de 20% da media dos resultados analíticos de C total, Ca e K trocáveis são comuns e não afetam as conclusões que podem ser tiradas, podendo-se admitir, para pH, una variação de 5%.
O presente trabalho tem como objetivo determinar, estatisticamente, o número de amostras simples a serem retiradas uma área plana (terraço) e outra de encosta de solos de Viçosa para a avaliação de suas fertilidades.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Para o presente trabalho, foram retiradas 100 amostras simples de solo de uma área de um hectare, num terraço (Podzólico Vermelho - Amarelo Câmbico fase terraço) , plana em toda a sua extensão, e um mesmo número, em outra área, de mesmo tamanho, próxima à primeira, mas localizada em uma encosta (Podzólico Vermelho - Amarelo latossólico) , com declividade média de 32%, no município de Viçosa, Minas Gerais.
Cada área, constituída de um quadrado de l00 x l00 m foi toda estaqueada de 10 em 10 m, perfazendo 100 estacas, dispostas num sistema de coordenadas (3). De cada um destes pontos foi retirada uma amostra de solo, até a profundidade de 20 cm, com um trado de aço inoxidável, possuindo tubo de 2 cm de diâmetro interno.
Estas amostras foram analisadas separadamente, determinando-se pH em água (10 g de solo: 25 ml dágua) ; P e K, expressos em ppm e extraídos com o extrator de "Mehlich" (l0 g de solo: 100 ml do extrator); Ca + Mg expressos em eq.mg/l00g para o mesmo extrator, na mesma relação, e Al trocável, expresso em eq.mg/100g extraído com KCl 1 N (5g de solo : 100 ml do extrator).
Partindo-se da fórmula L= Y ± t a (s2/n)l / 2, onde L é o limite do intervalo de confiança em torno da média Y, t a é o valor de t com n-l graus de liberdade a um nível de probabilidade a , e s2/n a variância da média da população estudada, pode-se estimar o número de amostras necessário em futura amostragem, para se obter uma determinada precisão na estimativa do resultado analítico, a uma definida probabilidade de acerto.
Fazendo-se D= t a (s2/n)l / 2 , onde D é o intervalo especificado, deduz-se que: n = t2 a s2/D2, onde n é o número de amostras a ser retirado.
Pode-se. também dizer que D = Y * f, onde f é a percentagem variação em torno da media admitida pelo pesquisador, na obtenção de um resultado analítico na estimativa da fertilidade um solo. Como o coeficiente de variação (CV)= s/Y \ s = CV * Y pose deduzir que:
n = (t a CV/f)2
Com os dados obtidos das duas áreas estudadas determinou-se, para cada característica química analisada, a média, o desvio padrão, o coeficiente de variação e o número de amostras simples a serem feitas, admitindo-se diferentes percentagens de variação em torno do resultado analítico estimado, com uma segurança de 95% de probabilidade.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
No quadro 1 são apresentados a média, o desvio padrão e o coeficiente de variação dos resultados analíticos, obtidos das duas áreas estudadas. O coeficiente de variação do P no terraço apresentou um valor muito alto, o que se pode atribuir à ocorrência de três pontos que se apresentaram muito distanciados do valor médio deste elemento na área.
Quadro 1- Média (Y), desvio padrão (s) e coeficiente de variação (CV) dos dados obtidos.*
Itens analisados |
Terraço |
Encosta |
||||
Y |
S |
CV% |
Y |
s |
CV% |
|
pH |
5,65 |
0,267 |
4,47 |
5,31 |
0,209 |
3,94 |
P (ppm) |
1,19 |
1,690 |
142,21 |
1,22 |
0,752 |
61,67 |
K (ppm) |
63,30 |
52,342 |
82,69 |
20,88 |
24,838 |
118,95 |
Ca + Mg (eq.mg/100g) |
5,22 |
0,894 |
17,13 |
2,11 |
0,918 |
43,48 |
Al (eq.mg/100g) |
0,17 |
0,063 |
37,20 |
0,48 |
0,173 |
35,97 |
Verificam-se, pelos resultados, que Ca, Mg e K se encontram distribuídos em menores variações no terraço, ocorrendo o contrário com o P e o Al. O valor pH apresentou variação mínima nas duas áreas.
Os resultados obtidos na encosta mostraram que, nas partes mais baixas, os valores de pH, Ca +Mg e de P aumentaram, enquanto que as concentrações de K e de Al não variaram sistematicamente com a declividade.
No quadro 2 são apresentados os números de amostras simp1es de solo a serem retiradas/ha, em áreas de terraço e de encosta de solos de Viçosa, para diferentes percentagens de variação em torno do resultado analítico médio verdadeiro estimados a 95% de probabilidade.
Quadro 2- Número de amostras simples de solo/ha a serem retiradas, para diferentes percentagens de variação (f) em torno do resultado analítico médio verdadeiro a 95% de probabilidade.
f % |
Terraço |
Encosta |
||||||||
pH |
P |
K |
Ca+Mg |
Al |
pH |
P |
K |
Ca+Mg |
Al |
|
5 |
4 |
3181 |
1076 |
47 |
218 |
3 |
601 |
2226 |
298 |
204 |
10 |
1 |
796 |
269 |
12 |
55 |
1 |
149 |
557 |
75 |
51 |
15 |
1 |
354 |
120 |
6 |
25 |
1 |
67 |
248 |
34 |
23 |
20 |
1 |
199 |
68 |
3 |
14 |
1 |
38 |
139 |
19 |
13 |
25 |
1 |
128 |
44 |
2 |
9 |
1 |
24 |
90 |
12 |
9 |
30 |
1 |
89 |
30 |
2 |
7 |
1 |
17 |
62 |
9 |
6 |
35 |
1 |
65 |
22 |
1 |
5 |
1 |
13 |
46 |
7 |
5 |
40 |
1 |
50 |
17 |
1 |
4 |
1 |
10 |
35 |
5 |
4 |
45 |
1 |
40 |
14 |
1 |
3 |
1 |
8 |
28 |
4 |
3 |
50 |
1 |
32 |
11 |
1 |
3 |
1 |
6 |
23 |
3 |
3 |
60 |
1 |
23 |
8 |
1 |
2 |
1 |
5 |
16 |
3 |
2 |
70 |
1 |
17 |
6 |
1 |
2 |
1 |
4 |
12 |
2 |
2 |
80 |
1 |
13 |
5 |
1 |
1 |
1 |
3 |
9 |
2 |
1 |
90 |
1 |
10 |
4 |
1 |
1 |
1 |
2 |
7 |
1 |
1 |
100 |
1 |
8 |
3 |
1 |
1 |
1 |
2 |
6 |
1 |
1 |
Verificam-se, pelos resultados do quadro 2, que a obtenção de um resultado analítico de pH, Ca+Mg e Al, nestes tipos de solo, pode ser feita com boa segurança com um pequeno número de amostras simples por amostra composta/ha, sendo necessário um grande número de amostras para se obter um resultado analítico de P e de K que represente o solo com razoável segurança.
Para a porcentagem de variação de 20% em torno de um resultado médio representativo destes solos, nas determinações analíticas, como recomendam CATANI et alii (1) , deve ser retirado um número excessivamente grande de amostras nos dois tipos de solo, como mostra o quadro 2.
Com a retirada de 30 amostras simples/ha, os resultados analíticos representativos destes so1os estão dentro de variações percentuais em torno do resultado fornecido pelo laboratório iguais a 1,7; 51,5; 29,9; 6,2 e 13,5 para pH, P, K, Ca+Mg e Al no terraço e iguais a 1,4; 22.3; 43,1; 15,7 e 13,0 na encosta, respectivamente.
Se o trabalho de pesquisa a ser conduzido em alguns desses dois tipos de solo exigir a obtenção de resultados que representem o solo com menor segurança, ou num maior intervalo confiança, o numero de amostras simples/ha a ser retirado deverá ser diminuído, como mostra o quadro 2.
4. RESUMO E CONCLUSÕES
Este estudo relata a determinação estatística do número de amostras simples para formar uma composta/ha, usando-se a fórmula n= (t a * C.V./f)2.
O número de amostras simples foi calculado para várias percentagens de variação, em torno da média, a 95% de probabilidade.
O solo foi coletado num terraço, Podzólico Vermelho-Amarelo, Câmbico fase terraço, e numa encosta, Podzólico Vermelho Amarelo Latossólico, situados no municípios de Viçosa, Minas Gerais. De cada uma dessas áreas retiraram-se 100 amostras simples/ha.
Os pontos de amostragem foram determinados por um sistema de coordenadas e as amostras, analisadas isoladamente para a determinação de pH, P, Ca+Mg, Al e K.
Os resultados obtidos demonstram que:
terraço: P > K > Al > Ca + Mg> pH;
encosta: K > P >Ca + Mg > Ai> pH
4. SUMARY
This study reports the determination of the number of single samples used to constitute a composed sample/ha, through the statistical formula n= (t a * CV/f)2.
The number of single samples was computed for several percentages of variation around the mean at t = 5%. The soil samples were collected form level ground, red yellow podzolic-1atoso1, 1ocated in Viçosa county, in the State of Minas Gerais. One hundred single samples were drawn from each area.
The sampling sites were established by using the intersections of a 10 x 10 meter coordinate system. Each sample was assayed for pH, P, Ca + Mg, Al and K.
The reresu1ts obtained have shown that:
level ground: P > K > Ai > Ca +Mg > pH;
slope: K > P > Ca +Mg > Al > pH and
Material publicado originalmente na Revista CERES - Univ. de Viçosa - 21(114):142-147 - Viçosa/MG. 1974
* Aceito para publicação em 19-031974.
** Respectivamente, Eng9Agr9 participante do curso de mi ciação a Pesquisa, Convênio MA/U.F.V. , ligado ao IPEM (Bolsista do Programa PROTERRA) Professor Assistente 4 Professor Adjunto da Universidade Federal de Viçosa.
6.LITERATURA CITADA